Sónia Gomes
Tutora

Entrevista

Tutora do curso intensivo Digital Product Design & Management da EDIT. Porto, Sónia Gomes fala-nos nesta entrevista sobre a sua profissão e percurso, que passou por Londres, bem como partilha a sua perspetiva sobre o Digital Product Design, e porque deve ser uma área a investir.

A disciplina de product design será cada vez mais responsável pela inovação, descoberta e modelação do produto que permitirá entregar valor aos users em forma de experiências digitais e não só!


O teu percurso académico começou na Multimédia. Como chegaste à área do UX/UI Design e Product Design? Conta-nos um pouco sobre a tua experiência profissional, e como foi trabalhar no Reino Unido.

O meu percurso começou com um curso técnico de multimédia, não uma licenciatura, apenas um curso de 3 anos com equivalência ao 12º ano, que terminei  em 2004. Durante o curso explorei várias vertentes como design, vídeo, fotografia e som, mas rapidamente percebi que tinha alguma tendência para design. Após terminar o curso estagiei no Centro de Computação Gráfica da Universidade do Minho e estive exposta ao web design. De seguida, ingressei no mercado de trabalho como web designer numa pequena agência de comunicação, onde era responsável por absolutamente todas as peças de design, desde o logotipo e identidade, passando pela brochura até ao website. Nos anos seguintes, trabalhei em algumas pequenas agências em Guimarães e posteriormente noutras de maior dimensão em Braga. O meu tempo era dividido entre o meu trabalho na agência e formações, fiz formações e workshops sem conta! Destaco aqui o curso intensivo de expert web design na Galileu com a duração de um ano, ou seja, algo muito semelhante ao que fazemos aqui na EDIT.

O ano de 2010 foi crucial na minha carreira, porque foi quando decidi fazer um shift para tecnologia. Foi quando então decidi vir para o Porto e ter a minha primeira experiência de trabalho numa software house, a Devscope. Nesta tecnológica tive oportunidade de fazer UX a sério e ainda aprender a trabalhar com engineering e já algum product. De seguida, fui para a Blip, que era o meu sonho na altura. Ainda me lembro da minha entrevista, foi surreal. Amei trabalhar na Blip, fui muito feliz lá, por vários motivos! Porque aprendi a trabalhar em produto, a pensar e desenvolver um produto e porque conheci o meu marido 🙂

Durante estes anos, entre a tecnológica Devscope e a Blip, estava também a estudar marketing numa licenciatura pós-laboral, uma loucura! Naquela altura andava à procura de UX e inocentemente achei que marketing era o que mais se aproximava em termos de educação formal. Quando percebi, ao fim de 3 anos, que aquilo não era nada do queria, decidir ir para Londres em busca de consolidar o meu conhecimento em UX. E foi o melhor que fiz pela minha carreira! Aprendi da melhor forma, aprendi a trabalhar com os melhores. Tive o privilégio de trabalhar com designers experientes que passaram pelas empresas mais conceituadas do mundo tais como Spotify, Google, UsTwo, Amazon, Burberry, etc. Em 2 anos consegui aprender o que aqui demoraria muito mais, e ainda tive a sorte de conseguir trabalhar no meu produto de sonho, na Net-a-Porter.

A pergunta que se põe é, então porque decidi voltar? Porque sentia imensa falta da minha vida pessoal, rotinas, família e amigos. Viver em Portugal, e no Porto, é maravilhoso. A nossa comida, vinho e sol são incríveis!


Tens alguma rotina diária estabelecida? Como é um dia de trabalho teu?

Não tenho rotinas, não gosto de rotinas. Um dia de trabalho não começa sempre da mesma forma, a única coisa em comum nas minhas manhãs é mesmo o café, que tem que ser muito!

A minha semana começa ao Domingo, que é quando organizo a semana, marco reuniões, bloqueio tempo no calendário e preparo a lista de tarefas e pessoas com que preciso falar. Todos os outros dias seguem esse fio condutor e todo o outro tempo está alocado ao alinhamento com os designers e stakeholders. Invisto muito tempo na construção de relações com os designers principalmente, mas também com development e product. A minha missão na Prozis passa por influenciar e escalar a cultura de design. Em termos de estratégia, tento reservar tempo sozinha para ler, pesquisar, pensar e definir ações que possam amplificar o valor do design dentro da organização.


O que poderá ser tendência na área do Digital Product Design?

Digital product design aborda os problemas de uma forma holística. O product designer está assim muito mais focado nas pessoas, aos vários níveis e de diferentes formas. O seu trabalho passa mais por criar relações com os que os rodeiam: users, equipas de engineering e product e stakeholders. Acredito que o caminho será muito mais atuar enquanto facilitador do que pixel pusher.

A disciplina de product design será cada vez mais responsável pela inovação, descoberta e modelação do produto que permitirá entregar valor aos users em forma de experiências digitais e não só!


Na tua ótica quais são principais desafios e obstáculos que se enfrentam na criação de um produto digital?

Tal como referi em cima, a complexidade das relações que estão envolvidas na criação de um produto são a parte mais desafiante. Perceber o caminho que o produto deve seguir com base nas necessidades reais dos users e do negócio é exigente, porque a tentação de fazermos algo que para nós faz sentido é grande!

Aprender a errar e aceitar isso como uma aprendizagem é também um dos obstáculos que frequentemente observo. Testar as nossas assumptions a cada passo e aceitar com naturalidade que aquilo que para nós faz sentido, pode não fazer nenhum sentido para os outros é crucial.

Para terminar, em termos técnicos conceber um produto de forma consistente, tanto em termos de UI como de UX é O desafio.


Podes destacar um ou dois case studies de Digital Product Design que consideres de sucesso?

Em termos de consumer products, diria que o Airbnb é uma referência mundial em termos de desenvolvimento de produto, design e tecnologia. Vai-se reinventado e adaptando através de iterações constantes para ir de encontro às necessidades dos seus utilizadores, sejam eles, os hosts ou os guests. O Spotify é também uma referência para toda a comunidade de design pela sua inovação e consistência.

Não posso deixar de referir a Farfetch como um produto de referência em e-commerce, que acredito estar a evoluir de uma forma inovadora, lean e ainda assim consistente.

Ah! Ia-me esquecendo do Medium! Acho que o impacto que este produto tem na vida do público tech é fenomenal, se pensares bem, onde é que lês tudo hoje em dia? Medium. E se quiseres publicar alguma coisa? Medium. E como é a experiência de leitura? Top! É fabuloso.


Quais foram os projetos mais desafiantes em que participaste, ou que te deram especial gosto realizar?

Amei trabalhar na Blip, cresci imenso, foi aqui que consegui dar o salto de UX/UI para Product Design. O produto é muito exigente e desafiante. É um produto complexo e a gestão das relações é igualmente complexa, com stakeholders exigentes, aprendi a negociar. A nossa equipa de design era muito boa também, a barra da qualidade estava alta! Foi também a minha primeira experiência de trabalho com outras culturas, o que me abriu outros horizontes e potenciou outras skills que desconhecia.

Durante a temporada que passei em Londres, trabalhar na Net-a-Porter foi um sonho que nunca pensei se tornar realidade. Honestamente sempre pensei, porque razão vou ser eu a escolhida no meio de tantos designers muito mais talentosos que eu!? A competição em Londres é assustadora! Há muita qualidade, naturalmente, estão mais à frente que nós, até porque o mercado assim o exige. Mas consegui e foi maravilhoso! Porque adoro fashion (é uma coisa de família), adoro beleza e harmonia e o produto em si transpira isso. Aqui tive oportunidade de contribuir para um design system extremamente complexo que me permitiu focar mais no UX, na experiência do que no UI, e isso era exatamente o que procurava. Resolver problemas, pensar em padrões, em componentes, em sistema, foi espetacular!


Que recursos usas para te manteres atualizada sobre a área de UX/UI e Digital Product Design?

Medium, é o primeiro nome que me vem à cabeça, é uma fonte de conhecimento tão variado e está tudo concentrado numa plataforma, é um agregador fabuloso. O blog do InVision é viciante também, é um mundo de food for thought.

Podcasts, sou fã do DesignBetter.Co podcast do InVision e de todo conteúdo que eles produzem, é simplesmente incrível como eles conseguem ter a maioria das respostas às minhas perguntas! São incríveis! O podcast Inside Intercom também é muito bom em termos de produto, estes tipos sabem o que estão a fazer!

Recentemente, comecei a seguir uma agência em Berlim, a AJ&Smart, que partilham imenso conteúdo sobre product design, prototipagem, design sprints e tudo com um sentido de humor que adoro


Que mais valias e dificuldades esperas encontrar, ao lecionar o novo curso intensivo Digital Product Design & Management da EDIT. Porto? E como pretendes transmitir os teus conhecimentos?

Espero conseguir partilhar o meu conhecimento de forma clara e entusiasmante! Saber dosear e perceber quando precisam saber determinada informação para avançarem e fazerem progresso. O tempo é sempre um desafio! Porque existe tanto para falar, experimentar e discutir que a gestão de tempo considero sempre ser um desafio.

Acredito que a melhor forma de aprender é a fazer, learn by doing, e, portanto, esse será um dos princípios das minhas aulas.


Podes deixar um conselho para quem pretende entrar no mercado do Design Digital? De que forma se pode ou deve diferenciar?

Numa primeira fase da carreira, diria para apostarem na técnica, no craft, praticarem e copiarem muito até serem bons! A partir daí é preciso levantar o rabo da cadeira, irem falar com as pessoas para saberem quais são os problemas que existem para resolver e se os designs que estão a produzir estão a ajudar ou não!

Quanto entrevisto designers, aquilo que me salta à vista, que me conquista não são tanto os shots beautifully crafted no portfolio, mas sim como as coisas se compõem como um todo, a história que aquelas peças contam, e quanto mais imperfeitas elas forem, mais autênticas vão ser. Porque ser digital designer não é criatividade e perfeição, mas sim criatividade com regras e imperfeições que espelham as necessidades dos utilizadores e dos negócios. Em product design sinto que isso ainda é mais acentuado pela longevidade do ciclo de vida do produto, portanto o desafio é mais perceber como podes lidar com tantas regras e constraints sem nunca perder de vista a essência e os princípios do design.



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