Dina Oliveira
Tutora

Entrevista

O Design Thinking e a inovação fazem parte do seu dia a dia de trabalho, que diz ser difícil ficar “preso" a rotinas.

Dina Oliveira é tutora do Workshop Design Thinking for Doers e conta-nos como chegou a Innovation Analyst na Sonae, transmitindo ainda, nesta entrevista, algumas dicas aos interessados pela área.

O Design Thinking tem muito mais a ver com mindset, sendo a formação o mais extraordinário mecanismo para promover essa forma de pensar e cultura.


Iniciaste a tua formação académica na área do Ensino, mas decidiste mudar para o Marketing. A que se deveu esta alteração? Conta-nos um pouco sobre o teu percurso.

Desde tenra idade que, quando me perguntavam “o que queres ser quando fores grande, a resposta era “Professora!”. “Grande” descobri que podia fazer tantas coisas… porquê escolher só uma? Por isso, apesar de sempre revelar uma admiração pela leveza e alegria do público infantojuvenil, em 2010, fiz uma reflexão sobre o meu percurso profissional, o que me levou a inscrever em Gestão de Marketing, no IPAM de Aveiro.

Na verdade, eu não sabia o que queria fazer, só sabia quais eram os meus super powers (todos nós temos super powers!): relacionar-me com pessoas e pensar (muito) sobre os “porquês das coisas”, de forma um tanto quanto criativa. Com efeito, as minhas experiências na área de marketing e, especialmente, na área de relações públicas e comunicação, sempre foram muito prazerosas e enriquecedoras.

Depois de terminar o curso no IPAM de Lisboa, devido à oportunidade de estagiar na GCI Public&Media Relations, estive durante 5 anos numa agência de comunicação em Aveiro, que pela sua pequena dimensão me permitiu aprender um pouco de tudo e me tornou numa “handywoman” na área de comunicação.

Como dizia anteriormente, uma atividade nunca poderia ser suficiente: passado pouco tempo, de ingressar o mercado de trabalho, inscrevi-me no Mestrado em Marketing, na Universidade de Aveiro e, rapidamente, me envolvi num outro projeto: o Atualiza-te-Conferências de Marketing.

A minha jornada levou-me à minha casa atual – a Sonae. Dia 1 de Junho (coincidências?) de 2016 entrei no departamento de inovação desta fantástica “escola”, onde tive a oportunidade de descobrir e apreender mais um super power (o mais especial!) – O Design Thinking! Atualmente, aplico a metodologia à resolução criativa de problemas relativos ao negócio Sonae MC, tendo a oportunidade de contactar com pessoas awesome. Tendo em vista validar e aprofundar os conhecimentos apreendidos pela prática, especializei-me em Design Thinking na EDIT. Porto, que me permitiu resgatar uma das minhas maiores paixões – a transmissão de conhecimentos. E aqui estou eu, como uma das tutoras em Design Thinking, parte integrante desta jovem e dinâmica equipa que é a EDIT.!


Que mais valias e know-how proporcionaram as tuas diferentes experiências profissionais nas áreas da comunicação, gestão de projetos e inovação?

Em termos latos, sem dúvida que a capacidade de me relacionar e mobilizar pessoas em diferentes contextos, a resiliência e a maleabilidade de pensar e atuar são as principais valências que adquiri ao longo das minhas experiências profissionais. No departamento de inovação Sonae desenvolvi, ainda, a sensibilidade para estar atenta ao “mundo” e ao que se passa à nossa volta, e agir em função dessa informação. Percebi que a simplicidade e a alegria devem/fazem parte do ADN das equipas de sucesso.


Tens uma rotina diária de trabalho definida?

Nesta área é difícil estarmos presos a rotinas (que chatice!). Cada desafio, uma forma de “ataque”. No entanto, tenho por hábito iniciar o meu dia a fazer scroll no meu Flipboard, onde tenho agregadas noticias sobre tendências, negócios e design. Esta profissão exige que nos mantenhamos atentos e informados. Depois, em equipa, promovemos momentos de inspiração e workshops tendo em vista a resolução de desafios lançados pelos negócios. Preparação, execução e reporting constituem-se como as fases macro do nosso trabalho. Também estudo muito, uma vez que também dou formação na área dentro de portas. Por isso encontrar a minha secretária repleta de livros é algo muito comum!


Como surgiu o interesse pelo Design Thinking? De uma forma breve, expõe a tua visão sobre esta filosofia, e porque devem as empresas apostar na mesma.

O meu interesse pelo Desing Thinking surgiu apenas aquando desta oportunidade profissional (não tenho uma história bonita para contar, é mesmo breve assim!). No entanto, percebi logo o fit e o upgrade que a metodologia acrescenta à minha formação básica de Gestão e Marketing. Atendendo ao seu caráter user-centered, o Design Thinking obriga-nos a ir mais a montante e a perceber, PERCEBER, na primeira pessoa o problema que temos em mãos. Também nos exige ir mais a jusante, e a fazer acontecer, implementar, testar, iterar. Acredito que a promoção deste tipo de metodologias no seio de uma empresa pode ser a fórmula para práticas mais disruptivas e inovadoras. Pela sua natureza descontraída, os workshops de Design Thinking revelam, ainda, um dano colateral inevitável: pessoas bem-dispostas e colaborantes, unidas por um mesmo propósito. Com efeito, para além de resolver o problema, o Design Thinking permite criar uma comunidade, unida tendo em vista a concretização do mesmo objetivo.


Que evolução prevês na área, em Portugal?

Com grande felicidade, deparo-me todos os dias com novas palestras, formações e profissionais que se especializam na área. Assim sendo, acho que o Design Thinking rapidamente deixará de ser encarado como uma moda, sendo o substituto de outras metodologias de resolução de problemas que, devido às exigências do meio, se tornaram obsoletas.


Na tua perspetiva, quais são os principais desafios do processo criativo? Tens alguma(s) fonte(s) de inspiração neste âmbito?

Quando promovemos sessões de Design Thinking deparamo-nos com um grande monstro – “o medo de errar”! É o bicho papão que temos de combater, esse e o “bloqueio”. Com efeito, antes de mais é preciso promover a cultura do erro: o erro é um amigo que gostamos que venha o mais depressa possível, quanto mais depressa erramos, menos investimos nas fases seguintes e maior a probabilidade de sucesso da solução. Bloquear é normal (tudo o que nos chateia é o que foge à normalidade, certo?). Na verdade, como facilitadores, por vezes, temos de ser capazes de deixar os envolvidos sentirem este desconforto, que ao longo do processo se dissipa. A fase de empatia é fundamental para dar resposta a alguns dos medos das equipas: quanto mais informação sobre o tema tivermos do nosso lado, maior a fonte de inspiração e mais válidas serão as soluções desenvolvidas. Quebra-gelos também ajudam a desbloquear.


Qual a importância, na tua ótica, de investir em formação? E em formação em Design Thinking?

Acredito que a formação é, de verdade, o primeiro passo para mudarmos o mundo. Através da formação alimentamos e despertamos mentes adormecidas, acrescentamos novas competências (hard mas especialmente soft) aos profissionais ou wannabes das mais diferentes áreas. Aprender é tão vital como respirar (oh se é!). O Design Thinking tem muito mais a ver com mindset, sendo a formação o mais extraordinário mecanismo para promover essa forma de pensar e cultura.


És tutora do Workshop Design Thinking for Doers na EDIT. Porto. De que modo gostas de lecionar as tuas formações?

Por natureza promovo as minhas formações, sempre que possível, na base do “learn by doing. Em Desing Thinking é impossível que assim não seja. Por isso, as sessões são estruturadas de forma a que os alunos vejam e sintam imediatamente em ação os conhecimentos passados. Nesta área, acredito que aplicar e ver o processo em ação por completo, desde cedo, ajuda a reduzir o ceticismo e aumentar a confiança na metodologia. Por isso, promovo sempre no primeiro dia uma design sprint relativa a um problema rotineiro e significativo para os participantes. A formação também revela um caracter altamente adaptativo, em função dos interesses dos alunos. Em Design Thinking não poderia ser de outra forma ?


Revela-nos as características que, na tua opinião, os profissionais das áreas da inovação, tecnologia e criatividade devem ter, de modo a destacarem-se e terem sucesso no mercado do trabalho.

Talvez me vá repetir, uma vez que todos já sabemos que o sucesso profissional está cada vez mais alicerçado em soft skills e nem tanto em hard skills (e felizmente!). Com efeito, os profissionais das mais diferentes áreas, e especialmente da área de inovação e criatividade, devem desenvolver, com urgência, a agilidade e resiliência de pensamento, de forma sempre alternativa e criativa. Não querendo puxar a brasa a minha sardinha, mas já o fazendo, acho que se irão diferenciar no mercado de trabalho os profissionais que forem confiantes, divergentes, colaborativos e positivos na resolução de problemas que irão converter em oportunidades e soluções mais ou menos disruptivas.



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