Diana Santos
Tutora

Entrevista

Actualmente, Diana planeia, desenha, implementa e monitoriza experiências do utilizador - procurando, nesse processo, facilitar uma mudança positiva na forma de interação com o produto.

Fala-nos um pouco do percurso profissional e da tua rotina diária.

Comecei o meu percurso no gabinete CMC Comunicação Visual, onde durante 6 anos assumi o papel de webdesigner/webdeveloper. Tive a oportunidade de realizar inúmeros projetos do primeiro esboço à última linha de código, de conhecer de perto os clientes e as necessidades específicas a cada negócio. Confesso que na altura praticava essencialmente uma espécie de Client-Centered Design, que é a metodologia praticada ainda por tantas agências no nosso país!
Conquistei autonomia e confiança, graças à necessidade de fazer um pouco de tudo; e garanto que as raízes ao nível de princípios de Design me foram transmitidas pela Teresa Cardoso.

Em 2012 fui convidada a ingressar na Rocket Internet Portugal, primeiro como UX Mobile Designer e depois como Frontend Developer. Ao transitar de um ambiente de agência para um tech center, tive a oportunidade de trabalhar com grandes profissionais e grandes equipas, de conhecer a aplicação de metodologias de trabalho capazes de agilizar processos e pessoas. Participei de projetos internacionais tão interessantes quanto os da alemã Zalando e também do Kaimu, marketplace presente em economias emergentes.

Quando o Miguel Pinto (fundador da Rocket Internet em Portugal) avançou na criação de um projeto próprio e lançou a Lookatitude, tive a imensa honra de estar presente no arranque desta aventura. É aqui que atualmente exerço funções, fundamentalmente, como UX & UI Designer.

Estou dedicada exclusivamente aos projetos da ACE (Africa Courier Express), empresa de transporte e logística que está a transformar positivamente a sociedade da Nigéria, facilitando o acesso, com segurança e confiança, a bens e serviços.

Ao nível das plataformas internas e projetos externos da ACE, é minha função planear, desenhar, dar o devido acompanhamento durante o processo de produção e depois analisar a performance das aplicações. Trabalho de perto com toda a equipa, em especial com os colegas de Desenvolvimento e de Marketing, mas recebo as diretrizes de negócio diretamente do cliente.

Do meu processo diário de envolvimento de toda a equipa, insisto em desmistificar preconceitos e ideias fixas. Testar, validar, implementar a partir do que aprendemos, e ainda assim testar de novo este é o processo. Só assim podemos garantir que estamos diariamente a fazer melhor e a sermos grandes profissionais.
Não tenho acesso direto aos utilizadores (estão na Nigéria!) mas valido as opções e suposições que vamos formulando, graças ao feedback da nossa equipa local (que chega a realizar testes de usabilidade junto de utilizadores finais) e de várias plataformas de Web Analytics.


A tua formação académica influenciou a escolha da tua atividade profissional?

No tempo em que era estudante universitária não imaginava que um dia viesse a trabalhar no campo da User Experience; comecei a ler sobre esse conceito bem mais tarde, numa altura em que frequentei um curso de desenvolvimento para iOS e procurava informação complementar sobre as guidelines da Apple.

Agora que recuo a esse tempo na Universidade de Aveiro, recordo que as disciplinas de Ergonomia Cognitiva, Usabilidade, Human-Computer Interaction e Design sempre me despertaram o maior interesse. Não tenho qualquer dúvida de que foi esse primeiro contacto que potenciou o meu caminho.


Quais foram as tuas maiores inspirações que te levaram a escolher esta profissão?

Quando comecei a ler sobre UX senti que finalmente tinha encontrado a profissão da minha vida; que efetivamente era aquilo que queria fazer: conciliar Design com noções de Psicologia e Ergonomia, seguir um processo de estudo dos utilizadores e avaliação do produto final, estar ao lado dos decisores de negócio ao nível da criação de soluções válidas. Com o fundamento último de produzir algo de bom e de válido para agilizar a rotina dos utilizadores! Wow! “People caring about people.” Se isto não é, de certa forma, contribuir para mudar a face do Mundo!

Estávamos no ano de lançamento do iPhone; o trabalho de Steve Jobs e do designer principal da Apple, Jon Ivy, destacava-se. Foi esse, talvez, o momento em que se democratizou a noção de que o bom Design de produtos e aplicações acaba por mudar (positivamente) o dia a dia das pessoas.


E hoje em dia? Quais são as tuas maiores fontes de inspiração?

Sou uma apreciadora do trabalho desenvolvido por Aarron Walter: é o responsável pela experiência do Mailchimp e aplica com mestria os princípios do Design para as Emoções. Muitas plataformas e aplicações de sucesso replicam visivelmente o trabalho deste senhor.

E atualmente, sigo com grande curiosidade os passos da Google. Podemos recordar que o Material Design foi um conceito surpreendente e, quanto a mim, muito bem estruturado quanto à sua aplicação prática. Não é de todo fácil criar um conjunto de guidelines que se adeque, com a flexibilidade do Material Design, a qualquer dispositivo.


Achas que a experiência do utilizador é um fator determinante nos projetos desenvolvidos em Portugal?

Em Portugal e no Mundo! Competimos todos, hoje, à escala internacional. Essa é a responsabilidade do mercado global: os nossos consumidores são exigentes, esclarecidos e impacientes. A janela de oportunidade para atração e fidelização de utilizadores é muito pequena. Se a oferta de um determinado produto ou serviço não resultar numa boa experiência, é simples trocá-la por outra.


Achas que a tendência é que as empresas comecem a reconhecer a importância de um UX designer ou ainda temos um longo caminho a percorrer?

Sou otimista em relação a esse assunto. UX é um termo que tomou conta do vocabulário dos nossos empreendedores; qualquer startup reserva desde logo essa função como indispensável no seio da equipa.

Continuo a ouvir histórias de ofertas de emprego de UX que não o são, porque “está na moda” contratar um designer com esse nome, mas os empregadores não sabem muito bem o que implica a função. Esse é um trabalho de informação e evangelização que nos cabe a nós, profissionais de UX, continuar a fazer.


Destaca um ou dois trabalhos que te deram mais especial gosto participar?

Felizmente recordo-me de vários, mas há um de que me orgulho especialmente: ACE On the Road, uma aplicação mobile utilizada pelos riders da ACE. Tecnologicamente, é um sistema que faz corar as empresas de transporte e distribuição na Europa.

Planeamos o Design tendo em conta uma interação que devia ser rápida e descomplicada ajustada ao dia a dia stressante de quem está na estrada. Adaptamos todo o interface a condições de luminosidade intensa, acesso à internet condicionado, utilizadores com pouca escolaridade e escasso período de formação. A app tem sido um sucesso junto dos colaboradores e clientes da ACE, contribuindo para o sucesso da organização e para o posicionamento desta como um expoente tecnológico na Nigéria.


Na atividade profissional que desenvolves no seu dia a dia qual a área com maior potencial de crescimento?

Nos últimos tempos, a posição de UX Design foi ganhando força no nosso mercado. Começam a faltar, a meu ver, UX Researchers no nosso país – profissionais exclusivamente dedicados ao estudo do utilizador e ao teste das aplicações, a todos os níveis – não basta testar somente a usabilidade, devemos estar atentos ao ciclo emocional do processo de interação. Prevejo que seja uma área com enorme potencial no futuro.


O que gostas de fazer nos teus tempos livres?

Aproveito muito do meu tempo livre para ler seja sobre a área de UX, seja sobre outros assuntos de interesse geral; atualmente não me resta muito tempo para literatura. Sou muito seletiva em relação ao que vejo na televisão, e nesse sentido opto por ver determinadas séries e filmes.

Aprecio o tempo que passo com a família e os amigos, e sempre que posso pratico atividades de outdoor correr, caminhar, andar de bicicleta. Confesso que gostaria de retomar a prática de yôga num futuro próximo.


Um bom profissional reflete-se num bom tutor?

Um bom profissional tem todas as qualidades para se tornar um bom tutor, mas pode não o ser.

Um tutor tem de garantir capacidades de comunicação para tornar possível a transmissão de conhecimentos e experiências. Tem também de praticar a empatia – estar atento aos formandos, conhecer-lhes o potencial e as fragilidades, de modo a tornar possível uma orientação adaptada à dinâmica da turma.


Procuras estabelecer novas técnicas e processos pedagógicos para aplicar nas tuas aulas?

Procuro, antes de mais, que os conteúdos teóricos estejam atualizados e os exercícios práticos adaptados às práticas correntes. Importa aos alunos que tudo o que exercem nas aulas esteja em consonância com as metodologias mais recentes do mercado.

O fluxo dos exercícios práticos ajustam-se sempre aos conteúdos teóricos, e quer o processo de execução, quer a exigência ao nível dos resultados finais vão sendo ajustados à dinâmica da turma e ao tempo disponível.


Como descreves a metodologia de ensino na EDIT.?

A EDIT. prima por garantir um ensino pragmático, voltado bem de frente para a indústria. Procura ser pioneira no ensino de conceitos e práticas que fazem parte da state of the art de cada área. Não é por acaso que entre a equipa de tutoria encontramos profissionais experientes e generosos, prontos a partilhar os dilemas com que se debatem no dia a dia.


Os alunos são estimulados a participar em projetos colaborativos nas tuas aulas?

Definitivamente. UX/UI Design é uma função que só faz sentido em equipa, pelo que os nossos formandos são estimulados a trabalhar em grupo várias vezes ao longo do curso. Gerir a dinâmica do grupo faz parte do perfil de um UX Designer – não é uma profissão que nos permita o isolamento, mesmo quando somos o único designer da equipa.

São convidados também a executar sempre projetos reais, para que sintam a responsabilidade de satisfazer um cliente concreto – e sobretudo um público igualmente real!


Qual a importância do feedback dos alunos?

É vital para a continuidade de tudo: da escola, do curso e dos tutores.
Tenho enorme consciência de que não são apenas os alunos que são avaliados – eu também o sou enquanto tutora, seja através do feedback contínuo e direto dos alunos, seja refletido no trabalho presente e futuro dos meus formandos.


Que recursos recomendas para os alunos se manterem atualizados sobre as matérias que lecionas nas aulas?

Para cada sessão disponibilizo documentação complementar ao tema – sejam os clássicos livros, artigos e websites, e ainda vídeos – em especial da plataforma Front Row.

Entre os tutores e os alunos surgiu a ideia de se criar uma página do Facebook, que estimulou a partilha e a discussão das matérias de uma forma mais espontânea.

Reforço sempre que os cursos da plataforma de ensino online da Interaction Design Foundation complementam os conteúdos teóricos que são abordados nas aulas, para quem quiser aprofundar o estudo de determinados temas.


Como está o mercado atualmente a nível de profissionais nesta área?

Está a crescer, sem dúvida. Encontramos cada dia mais oportunidades de emprego para profissionais de UX e de CX (Customer Experience, a variante de especialização em ecommerce), sejam nacionais ou não.


Quais os maiores desafios que os alunos recém formados enfrentam ao entrar no mercado?

O mercado português só agora começa a compreender a importância de um profissional de UX/UI Design dentro da equipa.

Um aluno recém-formado terá certamente de sensibilizar as chefias e os clientes para a necessidade de seguir um processo – processo esse que tem início muito antes do desenho de um interface, e que certamente não termina quando o produto é lançado. Terá também de educar a equipa a abandonar preconceitos e suposições sobre o modo como o utilizador avalia e faz uso do produto – são respostas que só uma análise do próprio utilizador nos conseguirá dar.


O contacto com as marcas no projeto final dos cursos, facilita o processo de aprendizagem e o ingresso no mercado de trabalho?

Sem dúvida! Trabalhar para uma marca de referência é, por si só, um enorme estímulo à excelência e à criatividade. Para além do mais, são-lhes concedidos todos os meios e orientação para concretizarem as melhores práticas discutidas ao longo do curso.

Ter um projeto assim no portfólio abre portas.


Indica alguns livros de referência para quem quer aprender mais um pouco desta área.

“The Design of Everyday Things” e “ Emotional Design: Why we love (or hate) everyday things ”, duas obra incontornáveis de Donald Norman.
“Don’t Make Me Think”, um livro inspirador de Steve Krug, ainda que já datado.
E “The User Experience Team of One” de Leah Buley, dado que esta é a realidade da maior parte dos profissionais de UX no nosso país!



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