Ângela Ribeiro
Tutora
Ângela Ribeiro
Tutora
“O foco já não é só desenhar coisas bonitas, mas sim criar experiências”.
Nesta entrevista, Ângela Ribeiro, tutora do programa de UX&UI Design de fim de semana da EDIT. Porto, e UX UI Designer na Jumia Porto Tech Center, dá-nos a conhecer o seu percurso, importância da área, mercado de trabalho e que skills devem ter estes profissionais.
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As softs skills são intrínsecas, mas essenciais. As que considero mais importantes são a empatia e o saber ouvir as pessoas - não se pode desenhar produtos sem dar voz ao nosso utilizador.
A tua formação académica teve início na área do Design de Comunicação. De que forma despertou-te interesse a do UI/UX Design? Conta-nos o teu percurso e experiências.
Fiz a minha Licenciatura na ESAD em Design de Comunicação e o Mestrado na Belas Artes, em Projetos Editoriais. Inicialmente, o que pretendia era desenhar livros e revistas. No entanto, a meio do Mestrado decidi que, como tese, queria desenhar uma aplicação móvel. Porquê? Porque não percebia nada da área digital e achei que seria uma boa forma de aprender uma coisa nova. Foi a partir da tese que comecei a conhecer termos como HCI, UX, UI e Usabilidade.
Mas o meu percurso profissional não começou na área de UX/UI, mas sim numa agência a trabalhar para redes sociais. Em seguida, trabalhei como designer gráfico na SPAR, uma cadeia internacional de retalho alimentar. Como não estava satisfeita com o meu percurso como designer gráfico, e enquanto estava na SPAR, achei que seria uma mais-valia consolidar os conhecimentos que já tinha adquirido com a tese e decidi frequentar o curso de UX/UI, na EDIT. Foi a melhor decisão que tomei.
Para além de ter aprendido imenso, iniciei o meu percurso como Designer UX/UI na FYI Digital Innovation logo depois de ter terminado o curso. Recentemente, iniciei um novo desafio como UX/UI Designer na Jumia Porto Tech Center, que é uma empresa de e-Commerce, que atua no continente africano. No início deste ano, fui convidada pela EDIT a lecionar um dos módulos do curso de fim de semana, de UX/UI, que iniciou em Março. O primeiro semestre está quase a terminar e o feedback tem sido positivo. Este ano de 2019 está a ser um ano de grandes mudanças profissionais e sinto-me feliz e entusiasmada por com tudo aquilo que está a acontecer.
Na tua opinião, porque devem as empresas e agências apostar no UI/UX Design, e em profissionais especializados?
Profissionais que se especializam, têm à partida, um grande interesse e gosto pela especialidade, seja ela qual for. Qual é a empresa que não quer profissionais que gostem do que fazem? Estes profissionais acrescentam valor à empresa e trazem novas metodologias que podem ajudar a dar o avanço que a empresa precisa. Hoje em dia, contratar um UX designer, por exemplo, é necessário. O foco já não é só desenhar coisas bonitas, mas sim criar experiências. Para que isto aconteça, é necessário conhecer o nosso público-alvo e acho que é nisto que muitas empresas ainda falham. Vivemos num mundo onde tudo é para ontem e se não houver um esforço por parte da empresa e de quem lá trabalha em manter um espírito crítico nos projetos que desenvolvem, facilmente se deixa cair numa rotina de “o cliente manda e a empresa executa”, esquecendo-se de quem será o utilizador ou o cliente final.
Por isso, contratar profissionais especializados em UX ou UI é cada vez mais importante num mundo onde a tecnologia avança muito rapidamente e onde os nossos utilizadores são cada vez mais exigentes.
Que evolução prevês nesta área, e no mercado de trabalho na perspetiva nacional?
Pelo que tenho percebido, esta área de UX/UI é relativamente recente cá em Portugal. No entanto, tem evoluído imenso e já existem muitas empresas, que mesmo não sendo empresas tecnológicas, reconhecem o trabalho de UX/UI. Podemos ver instituições bancárias, de saúde, entre outras, a contratarem profissionais desta área. Isto é um sinal que este reconhecimento já existe.
Futuramente, a nível de evolução na área digital, a Biometria, a Realidade Virtual, a Realidade Aumentada e VUI — Voice User Interface, estarão cada vez mais integradas no nosso dia a dia. A nova Era de Interfaces estará à nossa espera.
Na tua perspetiva, a formação deve ser contínua para quem trabalha nesta área? Porquê?
Hoje em dia, tudo evolui muito rapidamente. Aquilo que hoje em dia se aprende nas faculdades não é o suficiente. É apenas uma base para o conhecimento. Para qualquer área tecnológica é necessário ter gosto e humildade em aprender. A formação contínua é essencial e não existem desculpas para a falta de conhecimento. Existem imensas conferências, meetups, workshops, artigos, livros e cursos que nos ajudam a atualizar o nosso conhecimento. No entanto, acho que, mais importante do que ler e fazer cursos é colocar o nosso conhecimento em prática. Trabalhar numa empresa, ou com clientes que defendam valores como o conhecimento e inovação, ajuda à nossa formação.
Utilizas algum tipo de recursos/plataformas para te manteres a par das tendências do digital? Se sim, quais?
Existem algumas plataformas: Medium, UXPin, NNGroup, (onde procuro ler artigos diariamente). Mais recentemente, Podcasts. O DesignBetter.Co podcast do InVision é muito bom. Existe um podcast português chamado Mudo, do qual uma das fundadoras é a Catarina Garcia, também tutora da EDIT. Abordam vários temas, mas têm alguns sobre design digital e UX/UI. Costumo ir a conferências e meetups essencialmente no Porto. Já li alguns livros da área, no entanto neste momento não tenho lido muito. Posso deixar aqui algumas “bíblias” que recomendo lerem, se tiverem interesse.
- The Design of Everyday Things Donald Norman, 1988
- Don’t Make Me Think Steve Krug, 2000
- Branded Interactions: Creating the Digital Experience Marco Spies, 2015
- User-Centered Design, O’Reill Media Travis Lowdermilk, 2013
Tens alguma meta profissional que gostasses de cumprir?
As aulas não estavam nos meus planos. Contudo, em Setembro dei o primeiro workshop, de UCD, no âmbito do evento Sketch, no Porto. Gostei imenso e o feedback foi positivo. Talvez num futuro recente, as aulas sejam uma boa meta profissional, porque ajudam, enquanto profissional de design, a explorar novos caminhos e novos conhecimentos. Eu gosto de desafios e de fazer coisas novas. Não sei o que poderá vir, mas espero contribuir da melhor forma na área de UX/UI.
Quais as tuas expectativas enquanto tutora do programa UX & UI Design na EDIT. Porto? De que modo pretendes lecionar as tuas aulas?
Vou tentar transmitir o meu conhecimento, de acordo com a minha experiência. Acho que dar aulas ajuda-nos a evoluir como profissionais, pois, pelo menos para mim, transmitir conhecimento acarreta muita responsabilidade. Espero conseguir fazer tão bem como os meus tutores da EDIT fizeram e fazem com os seus alunos.
Que hard e soft skills deve ter, na tua opinião, um bom UI/UX Designer?
Para se ser um bom UX/UI designer é preciso saber trabalhar no Sketch, Adobe XD, Invision… As skill técnicas qualquer um pode aprender, com trabalho. As softs skills são intrínsecas, mas essenciais. As que considero mais importantes são a empatia e o saber ouvir as pessoas – não se pode desenhar produtos sem dar voz ao nosso utilizador; o trabalhar bem em equipa – é essencial criar um ambiente colaborativo; e curiosidade – e a curiosidade é um bom ponto de partida para a inovação.