O panorama da Realidade Aumentada

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A maior parte das pessoas pensa no Pokemon Go quando ouve falar em Realidade Aumentada, ou RA, e 2016 e 2017 foram anos muito importantes para esta tecnologia (e para a Realidade Virtual). Claro que é fácil crescer muito quando quase não se existe, mas é inegável que a evolução é estrondosa. O aumento da disponibilidade e capacidades dos dispositivos, as plataformas de desenvolvimento e, principalmente, os gigantescos investimentos por várias empresas criaram enormes expectativas. Afinal, se Facebook, Google e Apple investem em força numa tecnologia nova deve ser importante, não?

A realidade aumentada como hoje a conhecemos surgiu em 1992, introduzida por Tom Caudell e David Mizell, dois empregados da Boing, que quiseram a fabricação industrial numa linha de montagem do Boeing 747: tinha de colocar fios elétricos em mais de mil pranchas diferentes. A solução encontrada foi digitalizar os diagramas dos planos e utilizar uma prancha universal onde os fios virtuais eram mostrados através de óculos. E era muito mais fácil trabalhar assim do que a olhar constantemente para o papel. Esta nova tecnologia pode definir-se como a apresentação de informação virtual que melhora a perceção cognitiva do mundo real.

Vários investigadores continuaram a trabalhar em RA afastados do olhar do público e a Realidade Aumentada foi entrando em aplicações específicas, como nos capacetes de pilotos de aviões militares, mas não só.

Entretanto em 2012 a Google lança os Google Glass, que recebem muita atenção no meio técnico e fora dele, mas neste último caso, por más razões. Quem é que gosta de interagir com uma pessoa que talvez nos esteja a filmar e que pode ver conteúdos nos óculos enquanto fala connosco? Estará a ver alguma foto onde nos tagaram ontem à noite? Ou será que encontrou a pauta daquele exame que me anularam no primeiro ano? O Google Glass fica associado a nerds, violação de privacidade e é discretamente retirado do mercado.

Saltamos para Julho de 2016 e o Pokemon Go sobre para o topo das app store e bate recordes. Os fãs compram telemóveis com mais bateria para jogar mais tempo! A tecnologia de Realidade Aumentada do jogo não é especialmente sofisticada, mas capta a atenção de todos.

Saltamos para 2018 e onde estamos? Muita conversa sobre RA e muita coisa a acontecer, mas debaixo do radar. Surgem muitas aplicações de Realidade Aumentada nas app stores, afinal o smartphone é capaz de RA e as App Stores são o canal de disseminação ideal. Mas é o que não se ouve quase falar que é interessante.

Vamos recapitular. A RA é uma tecnologia que une os mundos físico e digital ao sobrepor informações, como texto, imagens e gráficos interativos, em objetos do mundo real e é experimentado por meio de um dispositivo de exibição que pode fornecer um feed de vídeo ou uma visualização direta do real. O utilizador recebe a informação através de um ecrã. No caso do smartphone, vê-se o mundo no ecrã através da câmara de vídeo. Nos óculos vê-se o mundo real através de lentes transparentes. Em ambos os casos os conteúdos digitais são sobrepostos sobre o real. O que distingue as boas das más aplicações é a forma como é feita a implementação e como a aplicação lê o mundo. Em alguns casos a aplicação quase não lê o mundo, limita-se a mostrar gráficos e o utilizador funde tudo na sua cabeça, convencido que o Pikachu está mesmo a saltar na relva. Noutros casos o dispositivo interpreta a imagem e coloca o objecto no terreno e até a pode “esconder” atrás do banco do jardim.

É aqui que parte da evolução está a acontecer. Em 2017 a Apple lançou o seu próprio SDK de desenvolvimento de RA para iOS (iPhone e iPad). O ArKit é capaz de identificar a posição do dispositivo (smartphone ou tablet) e escolher planos horizontais, verticais, interpretar a iluminação dominante e representar objectos nestas condições. Mais no fim do ano a Google anunciou o ARCore, que faz praticamente o mesmo mas corre em muito menos dispositivos, uma consequência da fragmentação do ecossistema Android. Estes SDK não surgem da noite para o dia, são resultado de anos de investigação e de aquisições de outras empresas. A quem é que isto interessa? Aos developers de RA que ganham ferramentas de desenvolvimento, e ao resto do mundo que percebe que a Apple e a Google estão a jogar a sério e apostam no desenvolvimento da tecnologia.

Entretanto outra tecnologia, já em desenvolvimento há vários anos, facilita imenso o desenvolvimento de aplicações: os motores de jogos como o Unity e o Unreal Engine permitem o desenvolvimento de Realidade Aumentada e Virtual com poucos ou nenhuns conhecimentos de programação (os SDK de RA funcionam com estes motores desde a versão beta).

Empresas como a IKEA desenvolvem as suas aplicações de realidade aumentada: uma parte do catálogo está na aplicação e permite colocar algumas peças na nossa sala e testar como funcionam.

Surgem os primeiros jogos interessantes de RA, como o PuzzlAR, feito em Lisboa e que está consistentemente nos tops da AppStore.

O conceito deste vídeo vai na direção mais consistente e ajuda-nos a montar os móveis da IKEA com animações da montagem. Infelizmente é só um conceito, por enquanto. E é aqui que estão a maior parte das aplicações correntes: na indústria. Lembram-se do Google Glass que foi “reformado” porque ninguém queria ser controlado ou filmado às escondidas? Voltou silenciosamente e está a invadir fábricas, armazéns onde é usado para transmitir vídeo do que o trabalhador está a ver ou a mostrar ao trabalhador instruções de operação e montagem.

As condições para que a Realidade Aumentada se torne ubíqua (esteja em todo o lado) estão rapidamente a reunir-se: reconstrução 3D do ambiente, localização indoor ou o reconhecimento do significado dos objectos por inteligência artificial. Mas isto é tema para outro post.


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