Design Colaborativo

Artigo

Partilhamos um artigo de Gustavo Pimenta, Managing Partner na SensesLab, onde nos explica como o design colaborativo tem estado relacionado com o seu background e percurso profissional.

“It is hardly possible to overrate the value… of placing human beings in contact with persons dissimilar to themselves, with modes of thought and action unlike those with which they are familiar.”
— John Stuart Mill

Ao longo dos tempos muitas têm sido as expressões usadas para designar processos de design que envolvem colaboração, desde design participativo, co-design, design cooperativo ou mesmo design colaborativo. Não é fácil encontrar consenso na indústria. Acresce que muitas vezes essas expressões são utilizadas com significados distintos.

Optei por designar o que apresento como design colaborativo porque me parece um termo inclusivo, capaz de abranger o tipo de actividades que agrupei debaixo deste guarda-chuva linguístico. Estou, no entanto, ciente que a expressão está longe de ser consensual. Curiosamente, constato que é melhor aceite por não designers do que por designers, para quem a expressão levanta uma série de “medos”.

Antes de explicar o conceito em si, é importante fazer uma brevíssima síntese do seu contexto histórico. A expressão VUCA (volatility, uncertainty, complexity e ambiguity) apesar de já terem passado algumas décadas desde que foi cunhada pelo exército norte-americano para caracterizar o mundo resultante do final da Guerra Fria, é hoje mais actual do que nunca. Os desafios que enfrentamos hoje em dia são completamente distintos do passado, logo as formas de os enfrentar também têm que necessariamente mudar.

Para fazer face a esta nova realidade, a economia actual está a mudar para um modelo baseado na criatividade definido por novas formas de criação de valor. Actividades centrais na antiga economia são continuamente deslocadas para países de baixo rendimento ou alvo de processos de automatização. Todos os dias surgem novos negócios, muitos dos quais baseados na disrupção radical dos seus antecessores. Tal acontece a um ritmo alucinante  e implica necessariamente uma reinvenção constante dos modelos de negócio. Bem-vindos a um fantástico novo mundo baseado em formas não lineares de resolução de problemas onde a criatividade e a inovação são os novos reis.

É neste contexto que o design colaborativo ganha uma enorme relevância enquanto forma de resolução de problemas. A pergunta que provavelmente estarão a fazer neste momento é o que é o design colaborativo? Design colaborativo é o processo de envolver pessoas com perfis distintos no processo de design com o objectivo de alcançar soluções não lineares para os mais variados tipos de problemas.  Tem três benefícios evidentes:

1. Business value ao viabilizar processos de inovação.

2. Shared ownership do projecto dado os diferentes stakeholders serem ouvidos e, consequentemente, sentirem-se parte activa do projecto.

3. Team building dado reunir um grupo de pessoas com uma missão comum, facilitada através de um conjunto diversificado de exercícios.

“Design is now too important to be left to designers.”
— Tim Brown

Outra forma de definir design colaborativo é atacar de raiz algumas pré-noções que podem estar associadas ao termo. Em primeiro lugar, é importante clarificar que o design colaborativo não é uma actividade exclusiva de designers. Antes pelo contrário, o potencial para chegar a soluções inovadoras será tanto maior quanto a diversidade do grupo de pessoas envolvidas neste tipo de actividade. Em segundo lugar, e em complemento ao primeiro, alguns designers pensam que esta metodologia pode colocar em causa o seu papel. Nada mais falso, permite-lhe sim tomar decisões muito mais informadas no seu trabalho. Por último, o design colaborativo está longe de ser algo apenas aplicável a problemas de design no sentido restrito do termo. Pode e deve ser aplicado a qualquer problema onde um pensamento colaborativo seja útil.

Alguns exemplos onde o design colaborativo é aplicável:

– Definir a visão de um produto ou serviço.

– Ganhar contexto sobre um problema distinto.

– Gerar e discutir ideias de forma eficaz e divertida.

– Resolver um problema específico de design.

– Desenhar o ciclo de vida de um produto ou serviço.

Quando falo de design colaborativo a novas audiências uma das questões mais frequentes é perguntarem-me se é uma “espécie de brainstorming“. A resposta é simples, não. O brainstorming é uma actividade que já foi cientificamente provado que não resulta. E porquê? Porque a sua estrutura assenta numa comunicação em grupo que tende a sobrevalorizar a opinião de uns participantes em relação à dos outros. No design colaborativo existe uma alternância entre exercícios individuais (ex: freelisting, Crazy Eights, etc.) com exercícios em grupo (ex: affinity diagram, context map, etc.) o que combate este efeito perverso.

Outra questão pertinente é saber que tipo de actividades podem ser enquadradas no design colaborativo. Uma explicação breve consiste em todo o tipo de actividades que conjuguem exercícios individuais e de grupo e que envolvam um conjunto de pessoas com perfis distintos. Alguns exemplos:

– Sequência de actividades recenseadas no livro Gamestorming. Esta obra é uma colectânea das metodologias colaborativas utilizadas pelas empresas mais inovadoras, com especial incidência em Silicon Valley. Apesar dos autores não utilizarem a expressão design colaborativo, recomendo vivamente a consulta deste livro para quem pretender iniciar-se nesta área.

– Design Sprints propostos pela equipa da Google ou variações destes. Este método propõe cinco dias consecutivos de trabalho, desde a discussão do problema até ao teste de uma solução com representantes do público-alvo do produto ou serviço.

– Design Studio, um método de geração de ideias em ritmo acelerado que se baseia em ciclos rápidos de sketching e que combina exercícios individuais com exercícios em grupo.

O design colaborativo é algo que me diz muito, não só pelo meu background em sociologia, e especial gosto por metodologias participativas, como também pelo forte impacto que o design centrado no utilizador teve no meu percurso profissional. Progressivamente, fui percebendo que não bastava compreender as áreas de negócio e as representações e expectativas do público-alvo dos projectos em que participo. É necessário dar o próximo passo e “co-criar” activamente com estes interlocutores.

Por último, é importante sublinhar que não estamos a falar de algo novo, mas sim de um tipo de abordagem transversal às mais variadas áreas, e que assume designações distintas conforme o contexto. O meu objectivo ao utilizar uma designação


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