Bruno Amorim
Tutor

Entrevista

Bruno Amorim é Digital Designer & Director na Bürocratik.

Fala-nos um pouco do percurso profissional e da tua rotina diária.

Comecei por trabalhar em casa como freelancer de web design para diversas empresas, entre elas a 7Graus, onde desenvolvia páginas internas para o Olhares.com. No entanto, rapidamente percebi que misturar o espaço de trabalho com o espaço de lazer, acaba por condicionar a nossa vida a vários níveis, tornando-se difícil desligar o interruptor do trabalho, já que as preocupações continuam ali.

Em 2008, juntamente com o Luís Carvalho, fundamos a Blak, um estúdio de design multimédia em Viana do Castelo, onde tínhamos como objetivo trazer uma experiência interativa aos websites, quer no frontoffice como no backoffice. Desenvolvemos in-house o Blakoffice, um backoffice que pretendia simplificar o processo de atualização de conteúdos, seguindo a regra de que a nossa avó teria de ser capaz de atualizar um site sem dificuldades, numa altura em que ainda não existia o Medium ou Squarespace, e o WordPress, Joomla ou Magento tinham uma usabilidade reduzida.

Em 2011 fui convidado para ingressar a equipa da Bürocratik que, desde então, ocupa a maior parte da minha rotina diária. Nessa rotina, procuro sempre ver as novidades do Awwwards ou Dribbble e das agências que acompanho. No meu processo de trabalho diário gosto muito de me deixar levar pela ideia e pela “pica” inicial que o projeto me dá e partir imediatamente para a execução. Procuro trabalhar sempre em articulação com a equipa de programadores porque o trabalho de design não acaba quando fazemos o último save do psd. Só um bom acompanhamento de development lhe imprime a alma necessária para causar uma experiência memorável no utilizador.


Quais foram as tuas maiores inspirações que te levaram a escolher esta profissão?

Quando estava a tirar o curso de Multimédia, tinha múltiplas saídas profissionais. Podia optar por vídeo, fotografia, som ou web e foi no 2º ano que comecei a perceber que o que me fazia acelerar o ritmo cardíaco era a Web. Na altura, o Macromedia Flash estava em força e os estúdios que estavam a marcar o ritmo eram a 2Advanced e group94. Como nesta área aprendemos imenso a seguir e a observar quem faz bem, foram eles, em parte, os culpados por esta paixão.

Atualmente verifico que nesse curso acabei por não fazer apenas uma única escolha pois a web de hoje em dia exige os restantes vetores de Multimédia: vídeo, fotografia, imagem e som.


E hoje em dia? Quais são as tuas maiores fontes de inspiração?

Admiro muito o espírito irrequieto do designer alemão Tobias van Schneider. Atualmente é designer na Spotify e já trabalhou para empresas como a Red Bull, BMW ou Wacom. Para além do enorme portfólio, o que mais me fascina nele é a capacidade de demonstrar que existe sempre espaço para melhorar. Em momentos com os amigos, acabou por criar diversos projetos que tiveram enorme sucesso, que são o que ele chama de “Side Projects”. Entre muitos, temos o Semplice, um sistema baseado em WordPress para criar portfólios para designers ou o The Authentic Weather, uma app de meteorologia com um humor bastante peculiar. Julgo que são bons exemplos de que, às vezes, as ideias mais simples são as mais eficazes e tal como os princípios da Apple, a questão muitas vezes não está em inventar a roda, mas antes em repensar os produtos para algo mais humano e menos robótico.

Existe ainda uma dúzia de agências digitais que estão a marcar o ritmo num nível altíssimo, das quais destaco a Hello Monday e a Fantasy Interactive, porque na minha opinião são sempre boas fontes de inspiração.


Quais são os principais desafios do processo criativo?

O processo criativo depende muito do conceito que se encontra para cada projeto, julgo que este é o maior desafio. A partir do momento em que se consegue chegar a algo muito bem fundamentado, tudo o resto é desenvolvido de forma natural, tendo sempre a ambição de esticar a corda até ao máximo.


Como lidas com o bloqueio criativo?

Coloco de lado o projeto em questão, despacho aquelas tasks pendentes que se arrastam há uns dias, durmo uma boa noite de sono e procuro estar fresco para o dia seguinte.


Se fosses outro designer, qual serias?

Tobias van Schneider, nota-se que sou fã?


Como encaras o facto de teres sido eleito um dos melhores designers portugueses na categoria de Media Digital em 2013 e 2014?

É ótimo sermos reconhecidos pelo nosso trabalho dentro da comunidade, mostra-nos que o caminho que estamos a seguir é o correto, contudo acrescenta-nos maior responsabilidade.


De que forma esta e outras distinções enriquecem o teu trabalho?

O melhor prémio que podemos ter é o reconhecimento de que a estratégia que desenvolvemos para o cliente é acertada e que está a dar frutos. De alguma forma, estas distinções vêm comprovar isso e enriquecem o projeto, dando mais alento para o próximo!


Pela tua experiência, como vês a área do design digital em Portugal?

Estamos em constante evolução digital, as coisas estão a acontecer muito rápido e Portugal está a contribuir cada vez mais para o desenvolvimento de produtos digitais na Europa. Temos tido várias empresas estrangeiras a criar sedes e equipas em Portugal para desenvolver os seus produtos e em reflexo disso, também temos assistido a um forte investimento em eventos na área, como é o caso do OFFF ou Web Summit.


Dá-nos a tua opinião daquilo que achas que vai ser uma tendência neste setor.

Cada vez mais vai ser valorizada a experiência contínua entre diferentes dispositivos. Os produtos digitais devem ser pensados para a interligação entre diferentes plataformas, não só entre computadores e dispositivos móveis, mas também como é que eles podem interagir com as nossas casas ou carros através das apps que desenvolvemos para mobile e smartwatches.


Refere um ou dois trabalhos que te deram especial gosto realizar.

FiberSensing.com é um dos projetos em que mais me orgulho de ter colaborado. Além da visibilidade que alcançou, considero que é um dos projetos mais coesos entre website/identidade e necessidade real do cliente. Tivemos a oportunidade de repensar a estratégia de comunicação da empresa e o cliente colaborou nesse sentido. Foi uma longa luta no que respeita à criação de conteúdos e execução do design, mas no fim fica o tal gosto especial!

Outro projeto especial é o OutdatedBrowser.com, uma ferramenta que deteta browsers antigos e avisa os utilizadores para fazerem download de uma nova versão do seu browser. Este era um projeto que já estava na gaveta há muito tempo na Büro e que, de alguma forma, sentíamos que devia ganhar vida para que pudéssemos contribuir com esta ideia para a comunidade. A comunidade recebeu-o de braços abertos e hoje em dia ajuda mais de 230.000 utilizadores por mês a atualizar os seus browsers.


Podes destacar dois websites que tenhas como referência?

O Awwwards é, sem dúvida, o site da atualidade que mostra o que de melhor se anda a fazer por aí a nível de web design. Premeia um site por dia, avaliando a perfeita sintonia entre design, ux, criatividade e conteúdos.

O Pttrns também é uma boa referência no que respeita a Mobile Apps, já que reúne os melhores exemplos dos diversos componentes que uma App pode ter: logins, searches, lists, etc…


Tens alguma meta a cumprir nos próximos tempos?

Sim, existe um projeto em “banho maria” que já anda há muito tempo para ser desenvolvido, mas que, por falta de tempo, ainda não aconteceu. Anseio pelo momento de conseguir dedicar-lhe alguma atenção e cumprir o sonho de criar um produto que ganhe vida e caminhe autonomamente.


Indica dois livros de referência para quem quer aprender mais um pouco desta área.

Sou grande fã dos 3 livros que Paul Arden, ex-diretor criativo da Saatchi and Saatchi, escreveu, nomeadamente o “It’s Not How Good You Are, It’s How Good You Want to Be”. Mostra-nos que não devemos ter medo de errar porque na próxima tentativa vamos errar melhor. Também refere que não devemos estar sempre à espera da próxima oportunidade porque o cenário ideal nunca se vai proporcionar, devemos sim agarrar a oportunidade que temos em mãos para fazer algo memorável.


O que gostas de fazer nos teus tempos livres?

Como já referi antes, considero que a melhor forma de aprender é a observarmos quem faz bem e, como tal, nos tempos livres tento olhar para produtos que rompem com o standard e trazem-nos uma lufada de ar fresco. Mais recentemente, a nova Apple TV trouxe-nos uma nova forma de utilizar a TV com um comando na mão, através de voz ou gestos. O brilhante deste produto é a capacidade de questionar a usabilidade dos comandos de TV habituais que fazem cada vez menos sentido, devido aos novos conteúdos interativos das Smart TV’s.

Também procuro dedicar algum tempo a fotografia e vídeo, é onde tento fazer o “gostinho ao dedo” e à edição de vídeo/imagem, para além de me permitir explorar novas tendências a aplicar em projetos futuros.

Para além de tudo isto, não dispenso a companhia dos amigos e da família, bem como um jogo de FIFA de vez em quando para descontrair.


Podes deixar um conselho para os nossos alunos que pretendem entrar no mercado?

É importante cada designer desenvolver o seu portfólio e colocá-lo online no Behance, Dribbble ou site pessoal. Só assim é que as agências ou estúdios que estão a contratar conseguem aferir se o designer corresponde às expectativas que procuram.

Também é importante não desistir ou ficarmos parados à espera que a sorte venha ter connosco, porque isso é difícil de acontecer.

Questionar é fundamental, obriga-nos a ter um espírito crítico sobre as coisas o que, inevitavelmente, nos leva a melhorar a cada dia que passa.



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